27.2.11

Fulana

pois não é que às vezes 
fulana gostava de sentir-se
livre

sem gilete na bolsa
sem cabelo escovado 
sem rímel sem meias
sem cruzadas de pernas
sem sorrisos forçados

não, não trocara de sexo
nem de sexualidade 
não entendia conceitos
nem entendia costumes
era ossos sem ritos
era corpo sem órgãos
sem unhas postiças
sem braços roliços
sem coxas macias
sem cintura e vagina
falsamente apertadas

fulana vivia
lusco-fusco piscando 
sambava escondida
sambava atrevida
em muitos momentos 
sentia-se outras 
fulanas cem modos
sem motor na barriga
nem cheirava nem fedia

fulana 
brincava de avesso
era ela
era ele
figura de livro, pois não
era bicho 
era mato 

e somente assim
sem maquiagem 
contra si mesma
tornou-se mito

3 comentários:

  1. Gostoso ser fulana algumas vezes, é preciso para que possamos nos encontrar.

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  2. "sem braços roliços
    sem coxas macias
    sem cintura e vagina
    falsamente apertadas"


    Essa parte é a de maior folego contemporâneo do texto, muito bom... uma Fulanidade sem dúvida!

    Como diria o Invencional TOM Zé ... é de uma Fulanância... que Combate toda a dominação masculina... que vem desde os mais remotos tempos... sendo guardada e defendida pela igreja católica...com seus pricípios judaico-cristão-ocidentais.

    Essa poesia é de uma libertação linda, é a própria mulher se fazendo pública... publicada por si, e não a nada mais Incrivelcional do que se permitir des-próibir-SI!

    Disculpa... mas não tenho mais palavras... isso é uma coisa que me emociona...


    kkkk... Massa, Se eu disse isso da tua poesia imagine o TOM Zé!

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  3. Fulanâncias à parte, agradeço (e gozo) os comentários.

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