.......... motornabarriga
"E Fulana diz mistérios,/ diz marxismo, rimmel, gás." CDA
15.3.11
Poeta
Eu-outros.
Olhos inquietos
e passos hesitantes.
Entre palavras,
excitado,
um camaleão.
Cotidiano
"- Olha, um gafanhoto na porta!
- Não é um gafanhoto, é uma esperança."
ah, se toda tarde eu encontrasse
uma esperança
na dobradiça do dia!
eu esqueceria
- por um momento -
os afazeres cotidianos
e sentiria
- por muito tempo -
que a natureza bate
à nossa porta
e nos comove:
nas frestas,
a vida!
5.3.11
Nossos pais
"Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre
junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino
feito grão de milho."
Para sempre - Carlos Drummond de Andrade
que a mãe não morra nunca,
diz o querido poeta
mas se pensarmos bem
nossos pais
mesmo mortos
mesmo tortos
permanecem
nos nossos gestos
traços filhos traumas
e nunca se vão
nunca em vão
mesmo quando os perdemos
fisicamente
ou os matamos
mentalmente
1.3.11
Ao menino que passa
olha
que coisa mais linda
mais cheia de graça
é um menino que passa
e as mulheres de hoje
também sabem olhar
já não estão mais sozinhas
sofrendo em casa
amando baixinho
mansinhas,
caladas
Movimento
e se pedro pedreiro
cansasse
de tanto esperar ?
e se de repente
o pensante
o ronceiro
pedro pedreiro
não mais homem-pedra
vencesse a inércia
e buscasse
e agisse
e fizesse
ele mesmo
o carnaval começar ?
Poeminha criado para um "e-mail de amor" de 2008
<< tundum
tundum
tundum >>
com você
meu coração
se abastece e
comBATE
entre sístoles
e diástoles
26.02.2008
27.2.11
Fulana
pois não é que às vezes
fulana gostava de sentir-se
livre
sem gilete na bolsa
sem cabelo escovado
sem rímel sem meias
sem cruzadas de pernas
sem sorrisos forçados
não, não trocara de sexo
nem de sexualidade
não entendia conceitos
nem entendia costumes
era ossos sem ritos
era corpo sem órgãos
sem unhas postiças
sem braços roliços
sem coxas macias
sem cintura e vagina
falsamente apertadas
fulana vivia
lusco-fusco piscando
sambava escondida
sambava atrevida
em muitos momentos
sentia-se outras
fulanas cem modos
sem motor na barriga
nem cheirava nem fedia
fulana
brincava de avesso
era ela
era ele
figura de livro, pois não
era bicho
era mato
e somente assim
sem maquiagem
contra si mesma
tornou-se mito
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